Quem tudo quer, tudo pode ser

Quando criança, a maioria de nós – se não todos nós – ouvimos a pergunta “O que você quer ser quando crescer?”. Você se lembra da sua resposta? Tem algo a ver com o que você faz hoje?

A sociedade está em constante mudança e a forma de educar as crianças e formar os jovens está bem diferente do que na época de nossos pais. Será que já estamos preparados para, além de perguntar o que a criança quer ser, perguntar “E o que mais?”?

Se desde sempre você soube o que queria, as coisas foram um tanto mais simples – mas nunca fáceis –, e você, especialista, já vai entender o motivo. Quando já se sabe o que quer, as dúvidas são onde estudar, como estudar, como pagar, mas nada que seja relacionado à insegurança de não saber se todo o esforço está sendo em vão, pois em algum tempo o seu interesse vai mudar completamente. Você segue aquele sonho, se dedica, se especializa e está em constante pesquisa, para ser um exímio especialista na sua profissão.

Quem nunca teve um amigo ou conhecido que trocava de curso na faculdade o tempo todo, parava de estudar, ia viajar, arrumava um emprego que nunca teve nada a ver com o que ele já estudou e no fim das contas continua sem saber o que quer? Pois bem, bem-vindo ao mundo das pessoas multipotenciais. Essas pessoas compartilham três características que são, na verdade, superpoderes: aprendem rápido, se adaptam facilmente e são ótimos em combinar um misto de experiências pessoais para ter uma nova ideia, juntando um pouquinho de cada coisa que já fez para criar algo completamente novo.

Os multipotenciais, quando combinados com especialistas, formam um time imbatível na criação de conteúdo e produtos. Isto porque o primeiro grupo é famoso por “pensar fora da caixa”, dar sugestões novas e no lugar de um ponto de interrogação, tem um “e se” no alto da cabeça quando está pensando. O especialistas vão executar a tarefa de forma impecável e com altíssimo nível, ficando bem difícil pra concorrência inovar na mesma intensidade se dispõe de um time apenas de especialistas.

Se uma empresa tem apenas multipotenciais em seu quadro, provavelmente vai ver nascer ideias magníficas, mas que mudam o tempo todo de forma, se afastando da proposta inicial com sentimento de que nunca se sai do lugar. Com isto, acaba-se pressionando um especialista a ser multipotencial e um multipotencial, que já é pressionado desde criança a ser um especialista, a se moldar no padrão. No fim, temos um ambiente corporativo tenso onde as pessoas não conseguem externar e exercitar seu verdadeiro talento, dando início à tão temida frustração profissional. Neste cenário, todo mundo perde.

Na intenção de ter sempre os melhores no time, por vezes o RH recruta apenas pessoas de currículo “impecável”, com muitos cursos, pós graduações, especializações, MBA, Ibmec e tudo quanto é sigla que ateste que aquela pessoa é, de fato, uma especialista. É bem provável que no time tenha algum multipotencial que se especializou, pois tinha que escolher alguma coisa. Geralmente, é o excêntrico do grupo.

Os multipotenciais se interessam por muitas coisas. O problema não é falta de interesse. O problema (que não é exatamente um problema mas é visto como tal) é excesso de interesses. Por ser autodidata, quando um multipotencial se interessa por algo, fica completamente obcecado por aquele assunto. Faz pesquisas incontáveis, busca ajuda, troca ideia com muitas pessoas e parece que agora descobriu sua verdadeira vocação. Mas em alguns anos, meses ou até mesmo em questão de semanas, já perdeu aquele impulso e está completamente apaixonado por algo que surgiu no caminho, possivelmente durante o processo de pesquisa do projeto inicial. Leonardo Da Vinci viveu em uma época em que esta característica era exaltada, e pôde ser, dentre outras coisas, escultor, pintor, arquiteto, anatomista, escritor, físico, poeta, matemático e imagino que ao ser também inventor, poderia inventar novas profissões se tivesse vivido mais.

Da mesma forma que o multipotencial pode ser reconhecido por sua genialidade e ideias, ele sofre com insegurança de poder estar fazendo a escolha errada, estar perdendo algo melhor e maior, tem sempre dúvida no que quer, não se compromete numa carreira ou empresa e sente apatia, tédio, depressão.

Tudo tem seu lado positivo e o lado negativo. Para amenizar a sensação de frustração, aceite-se. Foque em se organizar, que é certamente a sua principal fraqueza. Tenha essa característica como um dom, um diferencial, pois você já nasceu com a principal qualidade do profissional do futuro. Você não tem medo do novo e nunca está na zona de conforto, então celebre ser multitalentoso e pare de pensar que tem algo de errado. Multipotencial, o mundo está de olho em você. E quanto mais você cresce, mais você pode ser!

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